sábado, 31 de maio de 2008

DERROCADA


Pouco a pouco tudo perco
como num apertado cerco
que não se vai compadecer
que me ameaça enlouquecer
-
Perdas constantes, coisas insignificantes
como finos rios de areia em grão
que se esvaem nas frestas de minha mão
em estranhas danças sombrias e desesperantes
-
Cada qual delas ao partir
leva de mim um pouco
esperando me dissuadir
a viver como um louco
-
É a debandada final
é a chegada da estação fria
do profícuo vazio sem igual
que ao horizonte luzidio inebria
-
Fico como mãe de filhos dez,
que um a um vê partir, e,
agora, mais não faz que a tez
(outrora radiante) passar a franzir
-
Como um torturado touro na arena
imploro até à derradeira estocada
com o público a aplaudir tal faena
regozijando-se barbaramente na bancada
-
Tento ser forte, decidido, valente, e
ao desespero que deixam, desvalorizar,
adoptar um discurso fluido e coerente
não mais que a mim mesmo me mentalizar
-
Mas cada vez mais ciente
estar grotescamente distante
de ser um possível auto-suficiente
para me tornar num reles repugnante
-
LETRASALINHADAS

6 comentários:

Sunshine disse...

Este poema é lindo!
Tnatas são as derrocadas que nos caem em cima e tão difícil que é sairmos delas!
Beijinho com raio de Sol

mdsol disse...

Forte! Interpelante!

Teresa Gaudêncio Santos disse...

Olá...

Obrigada pelo teu comentário hoje no meu "cantinho" :) respondi por lá!

Este poema é muito, muito bom!... mas "pesado". Pelos vistos tb tu atravessas uma fase de perdas e derrocadas. Força!

Depois da tempestade vem sempre a bonança!

Bjs

Hoje sem amanhã disse...

Olá

do que li adorei :)
muito intenso...

Jnhos

f@ disse...

Quase nada fica depois da derrocada...
mas depois construimos tudo de novo...
bonito poema beijinhos das nuvens

vieira calado disse...

Olá!

Andei a dar uma voltita pelo seu blog.
Achei-o muito interessante.
Bom fim de semana.

Bjs