domingo, 14 de dezembro de 2008

COBARDIA FINAL - A ASCENSÃO


E só me consigo lembrar
daquela letra da musica dele
não a posso esquecer nem apagar
está como que entranhada na pele
-
E eu que já não tenho nada de nada
que estou nu, perdido, desnorteado, errante
caminho sozinho por uma grande estrada
direitinho a essa imensa luz dolorosa e asfixiante
atraído pelo canto de uma atroz pérfida mágica fada
que aos céus e infernos anuncia quase delirante
a minha própria auto infligida antecipada chegada
-
E chora quem de mim gosta
e tudo deixou de me pertencer
e não obtenho sequer resposta
daqueles que a custo me tentam esquecer
por estarem cegos de terem desperdiçado a aposta
e me fitam nos olhos mas parecem não me poder ver
-
E são só estilhaços
rios de lágrimas de amor
gente amiga aos abraços
e desmaios e muita dor
que ninguém esperava
que não era ainda hora
diz essa gente apavorada
essa gente que me adora
-
Mas há também os que estão em festa
nas moradas de quem me detesta
e que aliviados desabafam: ''foi desta!''
-
E só te consegues lembrar
daquela letra da musica dele
não a podes esquecer nem apagar
está como que entranhada na pele
-
"Porque há qualquer coisa que não bate certo
qualquer coisa que deixaste para trás em aberto
qualquer coisa que te impede de te veres ao espelho nu
e não podes deixar de sentir que o culpado és tu
e não podes deixar de sentir que o culpado és tu
e não podes deixar de sentir que o culpado és tu"

-
Não queres crer, mas sentes-te finalmente seguro
sabes agora que foste precipitado em saltar o muro
e não precisas que mais nada te façam ver
concluis que afinal era, só era, possível viver
mas já é tarde e dás conta que te enganaste
quando por cobardia pegaste no revolver... e te mataste.
-
LETRASALINHADAS
* Entre aspas, excerto do poema "Balada dum estranho" de Jorge Palma

domingo, 16 de novembro de 2008

VENDE-SE


Quero sentir-me fora
fora de estar em mim
desencarcerando-me assim
donde a realidade mora
-
Quero sair do colete
colete tão apertado
que me mantém aprisionado
como num abominável corpete
-
Quero fugir desta carcaça
carcaça podre que me rodeia
sem saber o que me norteia
e lança à deriva minha barcaça
-
Quero-me de mim mesmo libertar
libertar da apertada amarra
desta pele que me agarra
e me condena a suplicar
-
Quero total independência
independência de ter de ser
totalmente fiel ao desprazer
de caminhar nesta demência
-
Quero nascer de novo
de novo tudo começar
até conseguir não mais lembrar
deste ser lamacento, deste estorvo
-
Quero de mim me esquecer
esquecer esta realidade
e abandonar a fatalidade
do que me obriga a sobreviver
-
Quero-me apenas vender, vender,
vender a quem pouco ou nada pagar
facilito, aceito permutas, ou aluguer,
basta que me aceitem por fim libertar!
-
LETRASALINHADAS

sábado, 18 de outubro de 2008

NA DEMÊNCIA DA MINHA SOLIDÃO


Adoro esta imagem. Olho-a horas a fio, vezes sem conta. Olho-a tanto que até me chego a sentir embrenhado nela. Alguém ali foi feliz, de certeza muito feliz, se bem que houveram tempos de tristeza também e morte no fim. Nem sempre foi assim como está agora, como sobrou, como lhe permitiram sobrar. Antes era radiante, bem pintada com cores vivas e berrantes, sem grades nem correntes, mas com um jardim tratado ao redor e cheio de flores, aliás, cheio de perfumadas flores garridas, e uma confortável cadeira de balanço e dois bancos corridos de três lugares cada, onde todos gostavam de se sentar a aproveitar o revigorante fresco do final do dia que sempre se seguia às tardes de insuportável calor, fazendo adivinhar noites de estupenda magia. Hesitei onde ficaria, Bolívia? Colômbia? Venezuela? Chile? Perú? Decerto na América, na América Latina, se bem que também uma perdida ilha grega lhe assentasse na perfeição, mas costumo-lhe ouvir vozes em tosco Espanhol ao redor, que entoam o que me parecem ser alegres musicas de Compay Segundo ou Ibrahim Ferrer, ao ritmo das guitarras e congas, e das gargalhadas estridentes por entre as danças dos mais novos que se revezam consoante o inicio e o final dos ininterruptos turnos de trabalho na fábrica de enrolar. Decididamente América Latina. Cuba. E costuma existir também uma jovem, maravilhosamente bela, de longos cabelos negros, de olhos bem abertos e expressivos, de seios redondos e cheios, meio destapados pelos habituais decotes pronunciados por onde escorrega até desaparecer um reluzente crucifixo, com roupas também elas coloridas, também elas floridas com saias até aos pés, bem largas e rodadas. Não sei porquê lembro-me sempre de Frida. Mas não é ela, não é Frida Kahlo quem ali habita, embora se assemelhe em muito na forma de vestir, nos padrões frutados com pequenos abacaxis e melancias vermelhas estampadas em vivos fundos verdes e amarelos, mas muitíssimo mais meiga e mais bela, e mais alta, e mais saudável e igualmente insinuante e desinibida. Vivia antes com o pai, nunca conheceu a mãe que faleceu ao dar à luz, e o pai, esse, sem nunca a molestar, nunca a perdoou e não evitava ceder todos os dias a afogar no rum a mágoa da irreparável perda. Baixo, gordo, de longo bigode de pontas arrebitadas, fez questão de a guardar, de a resguardar, de a esconder do mundo, da vida, do convívio e também por isso, nunca conheceu namorado. Ele adoeceu, e ela à sua cabeceira, noite e dia, até o perder, porque desistir há muito ele tinha, há vinte e quase um anos atrás. Depois um rapaz, que era médico, o médico do pai. Tal como eu, ele era meigo, muito meigo e extremamente atento e alto, mas ao invés, magro, seco, louro, e muito mais feliz, com uns penetrantes olhos castanhos claros e sempre disponível. Difícil foi resistir-lhe pela estonteante beleza dela. Pediu-a em casamento, casaram, e mudaram-se para esta casa, e foi o inicio. Ela, ainda que tenha aceite casar mais por necessidade, mais por comodidade, mais por segurança, mais por medo de ficar sozinha no mundo, do que por amor que nem sequer desconfiava poder existir, descobriu logo na primeira noite que o amava loucamente e que nada nunca mais seria igual na sua vida. E ficaram juntos, juntos nesta casa, sempre nesta casa, sempre felizes, sempre rodeados de festas e de convívio e de amigos. Sei que tiveram filhos, porque uma ou outra vez ouvi os seus tímidos risos, ou os seus choros a meio da noite, mas, estranhamente, nunca os vi, nem sequer os consigo imaginar, ainda que seguramente existam, até porque têm mesmo de existir. A casa essa, era vê-la radiante de dia, elegante de noite, sempre arranjada, sempre idolatrada e sempre invejada, não como agora que ninguém perde tempo a olhar, e sempre que podem a evitam. Mas parece que dos vinte anos de folia e alegria nela passados ninguém se lembra, nem mesmo os "habitués" dos bancos corridos... Antes a preferem recordar por aquela fatídica semana, uma única semana, com o renegar da casa em catadupa por todos, com o seu fecho a grades e cadeados, coincidente com o seu eterno amaldiçoamento. Abandonada por todos, porque, ele e ela já não estavam, também por ele, porque mesmo médico não o soube evitar, e por ela, porque morreu, morreu ainda jovem e capaz, nos braços dele, com o mesmo brilho no olhar com que o presenteou naquela longínqua primeira noite e que sempre soube sem esforço conservar. E nunca mais da casa se ouviu falar, pelo menos não até eu nela conseguir de novo penetrar com o meu persistente olhar. E seduz-me, e atrai-me, e atrai-me mesmo muito, e volta a seduzir-me antes de me atrair de novo...
Terá sido mesmo assim???

sábado, 20 de setembro de 2008

DESTINO


Não há como poder fugir
do destino que tens traçado
seja que porta escolhas abrir
vais sempre dar ao mesmo lado
-
Mas tu tentas furar, romper
em vão tentas espernear
abominas pensar em ceder
preferes mudar que acatar
-
E corres, corres, corres meio mundo
tanto trocas de vida e tentas melhorar
como tudo desperdiças e bates no fundo,
e eles apregoam que nunca o vais alterar
-
Aconselham-te a desistir de lutar
contra o que te foi reservado
que só tens mesmo é de aceitar
e viveres com o que tens, abnegado.
Que mesmo já antes de se nascer
está decidido e programado
que futuro vais afinal ter,
se um alegre se um triste fado.
-
Tretas, tudo puras tretas!!
Sei que tenho palavra activa,
que não somos meras marionetas
e que comandamos nós a nossa vida,
nem que apenas como meros poetas
-
E não me vão nunca reduzir
a ser um zombie mandado
que ao invés de exigir decidir
parece até apenas preferir
ser simplesmente comandado.
-
LETRASALINHADAS

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

NESSA ESPIRAL DE MIM PRÓPRIO


Recomeçou...
-
Passam infinitas memórias,
em turbilhões constantes
tanto de dias de glórias
como de horas desesperantes
-
Velhos arqui-inimigos temores
desfilam atabalhoadamente agora
trazendo de novo à tona as dores
que pensava enterradas outrora
-
Intempestivas antigas paixões
começam em mim a chover
num corrupio de emoções
que me consegue comover
-
Chegam sonhos de criança
jamais por mim realizados
que aparecem na esperança
de poderem ser dissipados
-
Aterram desejos amados,
recentes paixões e amores,
desilusões e desgostos apagados
num tão grande mar de suores...
-
Problemas profissionais
familiares preocupações
desavenças conjugais
nessas eternas discussões...
-
Assaltam-me de forma frequente
ideias para algo de novo fazer
sempre em realização eloquente
tanto de trabalho como de lazer
-
Revejo o dia em revista convicto
de onde falhei ou do que me orgulhar,
num julgamento sumário com o veredicto
de tudo o que terei em mim de modificar
-
Tudo parece querer exigir passar
num cérebro cansado e desgastado
entre o frágil dormitar e o acordar
que começa logo que me sinto deitado
-
Infinita estranha movimentada dança
nesse enlouquecedor entrelaçar
dessa estúpida agoniante aliança
entre o adormecer e o despertar
-
tic tac tic tac tic tic tac
-
(Não há meio do sono vir
tão tarde e eu acordado
não vou conseguir dormir
mesmo depois de há tanto deitado)
-
tic tac tic tac tic tic tac
-
(Acho que só vou adormecer
quando começar a amanhecer)
-
tic tac tic tac tic tic tac
-
(Já perdi a esperança de descansar
desisto! vou-me mesmo é...levantar)
-
Acabou...
-
Recomeçou...
Acabou...
Recomeçou...
Acabou...
Recomeçou...
Acabou...
Recomeçou...
-
LETRASALINHADAS

domingo, 27 de julho de 2008

CHEGADA AO FUTURO


Será que ainda consegues lembrar
de teres essa enorme esperança
de por magia como homem acordar
e não mais seres apenas uma criança?
-
E de te olhares horas ao espelho
a observar esse retrato perfeito,
não de um pequeno tímido fedelho,
mas de um belo e exemplar homem feito?
-
E com essa linda fictícia imagem
apenas existente na tua imaginação
conseguires por fim ganhar coragem
para voltares à realidade de então
-
O futuro era, decididamente, o caminho,
que apenas terias de cumprir com saber
e mesmo que o tivesses de enfrentar sozinho
todos os problemas ele saberia por ti resolver...
-
Levantadas agora as brumas desse reflexo
não sei se esse miúdo (se me pudesse ver)
ficaria desiludido, ou no mínimo perplexo,
se muito orgulhoso por em mim se reconhecer.
-
LETRASALINHADAS

Ilustração: ''Reflexo'' da autoria de http://www.tintasefeltro.blogspot.com/

quinta-feira, 3 de julho de 2008

OS "ROBOTS"


Mesmo quem aos outros convicto diz
espalhando aos quatro ventos
de peito aberto, "sou feliz!"
não se afogará em escondidos lamentos?
-
Mesmo quem a todos garante
que sente pura felicidade
não o fará mesmo perante
real existente adversidade,
apenas a admitindo sentir
a todos os tristes demais
para assim lhes encobrir
que a sentirá jamais?
-
Saberão realmente eles bem
o seu toque, o seu sabor
a magia que decerto detém
o seu estonteante embriagado odor?
-
Ou serão apenas mentirosos,
falsos, meros fingidores,
astuciosos, ardilosos
adúlteros deturpadores,
que pegam nas suas vidas vazias
cheias de esquinas sombrias
e fazem coincidir os seus sonhos
com esses seus mundos medonhos
só para puderem no fim dizer
que têm a vida tal qual a condizer
com os desejos sempre sonhados
em todos os aspectos ambicionados?
-
Decerto na ordem errada
a viver de e para nada,
por não terem a coragem
de assumir essa viagem
pela infeliz frustração
de uma vida de desilusão
vazia e fracassada...
-
Enganam-se a eles primeiro
acenam com estatutos e dinheiro
para os outros demais, vencidos,
os admirarem e idolatrarem, convencidos...
-
Ainda prefiro mil vezes mais admitir
nunca ter conseguido perto de feliz ser
do que ter de passar o tempo a mentir
e transformar em pandega o meu sofrer.
-
Desistir de um sonho sempre almejado
para não enfrentar não o ter alcançado?
Não...recuso-me ser "robot"...
Obrigado!
-
LETRASALINHADAS

domingo, 8 de junho de 2008

DESVIO MÓRBIDO DA RAZÃO


Infindas planícies verdejantes
salpicadas com papoilas admiráveis,
e afoitas cearas intermináveis
com desmedidas espigas pujantes
-
Tremendo céu nocturno imponente
admirado do cume da montanha alta
trazendo pedidos de desejo à ribalta
por se avistar uma estrela cadente
-
Imenso cristalino azul que meus olhos estonteantes
têm o prazer de conseguir contemplar
nessa mágica falésia virada para o mar
com imaginárias carpas em saltos delirantes
-
Magnifico pôr-do-sol ao entardecer
desaparecendo no horizonte a sua luz
como que num prenúncio ao anoitecer
que a todos os amantes por certo seduz
-
Tudo isto consigo sentir e imaginar
num pequeno espaço inconfortável,
fechado, sem janelas onde espreitar,
apenas de frio azulejo desconfortável
-
Bastando unicamente comigo estares
ambos de peitos colados e ofegantes
em suaves caprichosos carinhos constantes
nessa louca aptidão que tens em me beijares
-
LETRASALINHADAS

sábado, 31 de maio de 2008

DERROCADA


Pouco a pouco tudo perco
como num apertado cerco
que não se vai compadecer
que me ameaça enlouquecer
-
Perdas constantes, coisas insignificantes
como finos rios de areia em grão
que se esvaem nas frestas de minha mão
em estranhas danças sombrias e desesperantes
-
Cada qual delas ao partir
leva de mim um pouco
esperando me dissuadir
a viver como um louco
-
É a debandada final
é a chegada da estação fria
do profícuo vazio sem igual
que ao horizonte luzidio inebria
-
Fico como mãe de filhos dez,
que um a um vê partir, e,
agora, mais não faz que a tez
(outrora radiante) passar a franzir
-
Como um torturado touro na arena
imploro até à derradeira estocada
com o público a aplaudir tal faena
regozijando-se barbaramente na bancada
-
Tento ser forte, decidido, valente, e
ao desespero que deixam, desvalorizar,
adoptar um discurso fluido e coerente
não mais que a mim mesmo me mentalizar
-
Mas cada vez mais ciente
estar grotescamente distante
de ser um possível auto-suficiente
para me tornar num reles repugnante
-
LETRASALINHADAS

sábado, 17 de maio de 2008

LILITH


Ò Demónio vaidoso de mil vestes
não te aprestes a nos conquistar
e a nos transformar em perdidos
corações feridos à deriva no mar
-
Ò Espírito maligno, fecundo e irado
nosso aprumado rumo julgado certeiro
não sujeitarás a terreiro, à cobiça
vã na romana liça, de um julgamento matreiro
-
Ò Demo de todas nossas plumas favoritas
embriagada vomitas berrantes tons e cores
de quem nos oferta flores em jarras de cristal
e apenas exige o mal a quem lhe procura favores
-
Deixai sozinhos aqueles tristes pobres fracos
que só escutam parcos e frágeis teatrais lamentos
de seus próprios sofrimentos fingidos tão invejosos
pertenças de dias chuvosos de fortes trovões e ventos
-
LETRASALINHADAS

quinta-feira, 8 de maio de 2008

domingo, 27 de abril de 2008

DESAFIO ACEITE


Agradeço o desafio que me lançou a amiga F@, http://ondasnasnuvens.blogspot.com/, convite esse que me fez mudar de ideia, e decidir postar pela primeira vez algo fora do registo poético, mas que julgo valha a pena. O prémio? A bicicleta acima....

QUALIDADES:
Humildade, honestidade, sensibilidade, dedicação
DEFEITOS:
Exigência a mim mesmo, impaciência, pessimismo, ansiedade
GOSTOS:
Harmonia, tranquilidade, paz,
NÃO PASSAREI SEM:
Consciência tranquila, verticalidade, justiça
DETESTO:
Mentira, falsidade, oportunismo, superioridade
PESSOA:
A minha mãe, sempre...
FAMILIA:
A maior fatia de mim mesmo
HOMEM
Todos os que justificaram ter "H" grande
MULHER
Muito intelectualmente superiores e completas que os homens
SORRISO
Sempre que os recebo, considero-os um prémio inestimável
PERFUME:
Todos...bem longe de mim
CARRO
Bem recheado com as pessoas que gosto e me fazem sentir completo
PAIXÃO
Tento pôr em tudo a que me dedico e faço
AMOR
Gosto muito de dar, muito muito muito, e acho sempre pouco o que recebo
OLHOS
Todos os que olhem ternuramente para mim
SAL
Imprescindivel para apimentar a vida
CHUVA
Adoro, acalma-me
MAR
Faz parte de mim, não terei nascido lá???
LIVRO
Por ter desperdiçado tempo demasiado, quero ler todos, JÁ!!!
FILMES
Todos os que listo no blog
MUSICAS
Jorge Palma e um pouco de tudo, desde o Hard Rock da juventude ao Jazz - a ultima paixão
DINHEIRO
Já teve mais valor, muitissimo mais...
SILÊNCIO
Um trunfo, uma qualidade, uma virtude
SOLIDÃO
Antes, costumava adorar
FLOR
Margarida, túlipa, papoila
SINCERIDADE
Imprescindivel
SONHOS
A utopia de ser feliz
CIDADE
...dos Anjos, excelente filme (também)
PAÍS
Portugal claro
NÃO VIVER SEM
Sonhar
NÃO DEIXAR DE
Evoluir, melhorar

Uff.....nunca pensei ser tão dificil.....e vcs.? todos os que leram, aceitam também o desafio????

domingo, 20 de abril de 2008

PRESENTE ENVENENADO


Enquanto vagueei
sem sentido
aprumado pela dor
que sem medo enfrentei
sem rumo definido
nas ternas asas de um condor
-
Ocultando a ira que me seduz
para da escuridão fazer luz
a quem sei que muito me trai
na penumbra do sol que se esvai
tratarei de lhes ofertar
ricos manjares e botões de rosa a florir
ocultando a mágoa e conseguindo sorrir
a quem tem prazer em me magoar
-
Quando tudo for funesto
e todo o sabor a fel,
fingirei então ser honesto
tornar-me-ei em igual cruel
-
Serei falso perfeito amor
serei equívoco da simpatia
distribuirei frio como fosse calor
os presentearei com cínica magia
-
Como um presente envenenado
mimo dado sem ser sentido
qual liberdade do infeliz condenado
serei então anjo em pele de bandido
-
Acenarei com fingida amabilidade
dar-lhes-ei fortunas e tesouros,
e como um carrasco em capa de humildade
os atraírei aos seus próprios matadouros
-
LETRASALINHADAS

sábado, 12 de abril de 2008

DURMO OU NÃO?


Durmo ou não?
Passam juntas em minha alma
Coisas da alma e da vida em confusão,
Nesta mistura atribulada e calma
Em que não sei se durmo ou não.
-
Sou dois seres e duas consciências

Como dois homens indo braço-dado.
Sonolento revolvo omnisciências,
Turbulentamente estagnado.
-
Mas, lento, vago, emerjo de meu dois.

Disperto. Enfim: sou um, na realidade.
Espreguiço-me. Estou bem...
Porquê depois,
De quê, esta vaga saudade?
-
FERNANDO PESSOA

sábado, 5 de abril de 2008

JULGAMENTO PRÉ-CONDENADO


Acordamos um dia, e constatamos
Que estamos num mundo a que não pertencemos...
Nem sabemos quem somos, nem o que amamos,
E procuramos a razão para e porque vivemos
-
Tudo deixa então de fazer sentido
Desvanece-se a vida, fica tudo desunido,
Como um enorme puzzle ainda por fazer
Onde somos peça que parece a ele não pertencer
-
Tudo e todos que pensávamos fogosamente amar antes
Tornam-se assim meros inúteis, vazios, desesperantes,
Nada nem ninguém algo mais nos diz
E sabes logo que com eles não voltarás a ser feliz
-
Embora seja o mesmo, esse nosso velho mundo
Causa-nos agora um tal asco profundo
Que nos leva à loucura, e a só pensar
Em que tudo o que tínhamos, temos agora de mudar
-
Mas depois, chega o monstro da falta de coragem
Para assumir a todos essa grande viagem
De mudar de vida, e procurar a paixão
Esteja onde estiver, provar que temos razão
-
Temos medo dos outros, do que vão dizer
Afogamo-nos em nós, abdicando do prazer
De uma vida feliz procurarmos atingir
Sem nada nem ninguém donde queiramos fugir
-
Proibimo-nos de pensar, e tal como a avestruz
Escondemos esse desejo com um enorme capuz, e
Fingimos viver numa aparente intensa felicidade
Para os outros acreditarem que isso é mesmo verdade
-
E assim vamos vivendo, os anos por nós vão passando
E procuramos sempre nos ir mentalizando
Que estamos bem assim, que não podemos mudar
Pois continuamos a ter medo de que vão os outros pensar
-
Que se fodam os outros, que nem felizes são
Possivelmente ainda pior que nós eles estarão
Se nos vierem um dia a apontar o dedo
É só porque sabem que também só não o fizeram por medo
-
Depende de ti, escolheres o lado para estar...
Se dos tristes que apenas sabem criticar ou julgar,
Se daqueles que souberam com as regras romper
E que ainda que apontados, são felizes a valer
-
Sei que um dia, vais ter tu essa alegria
De seguires os teus sonhos, atingires a utopia
De viveres como queres e só com quem amas
De terminares de vez com essa vida de dramas
-
Todos os ‘’velhos do restelo’’ podem então criticar
Podem abrir os pulmões e bem alto gritar
Que tu nem sequer os vais ver ou ouvir
E a todos os insultos responderás a...sorrir!
-
LETRASALINHADAS

A TEMPESTADE QUE NÃO ENTRA...


Vejo à minha frente
Um caminho diferente
Um caminho que se diz contente...
Mas eu...
Perco-me no meio de palavras divergentes...
O sonho, só, não basta
Preciso de algo que me afaste
Da ilusão, da incerteza, da incoerência.
A realidade, apenas, não é suficiente
Quero acreditar e confiar nos meus instintos...
Nas minhas vontades...
O nevoeiro, calmamente regressa à minha vida.
Uma nova estação se apresenta.
O vento bate à minha porta
Mas a passividade impede-me de a abrir
Impedindo também que me transforme...
Impedindo que me permita a modificar...
Impedindo um turbilhão de emoções...
Impedindo uma tempestade capaz de lavar as feridas mais profundas...
Quero-te como um furacão.
Quero-te como uma catástrofe,
Como algo capaz de me deitar abaixo...
Mas que em seguida me dê a mão para me erguer outra vez.
E assim de cara e alma lavada talvez mude o meu caminho...
E assim talvez siga mais uma vez por estradas erradas
na esperança de um dia voltar a encontrar-te.

-
INÊS MONTENEGRO

sábado, 29 de março de 2008

FORA DE TEMPO


Noutras esferas,
noutras eras
anteriores
ou posteriores
minha serias,
e aí me terias
e poderíamos
viver,
deixar
acontecer
sem nada
temer
ou recear
sem satisfações
a dar
sem ninguém
a obstruir
aquilo que julgamos sentir.
-
Noutro tempo
noutro momento
anterior
ou posterior,
poderia funcionar
poderíamos amar
nos entregar,
totalmente
ardentemente
desmesuradamente
destemidamente,
sem ninguém ousar
querer evitar
o nosso amar.
-
Deixaríamos fluir
flutuar...flamejar...
evoluir, perpétuar.
-
LETRASALINHADAS

domingo, 23 de março de 2008

SORRI


Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios
-
Sorri quando tudo terminar

Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
-
Sorri quando o sol perder a luz

E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos
-
Sorri, vai mentindo à tua dor

E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz...
-
CHARLES CHAPLIN

sábado, 8 de março de 2008

FOTOGRAFIA


De mãos dadas
nessa caminhada
sempre juntos
pela estrada
pelo penhasco
a descer
adrenalina
ofegantes
corações a bater
desejos ardentes
beijos eloquentes
perfeitos adolescentes
menos na idade
louca vontade...
a areia (finalmente)
o mar
as ondas
a rebentar
o sol
avassalador
nas rochas
teu cheiro
teu calor
tão juntos
tanto ardor
tua pele
teu sabor
teu cabelo
teu suor
apoderado de ambos
lado a lado
com ternura
e,
apesar da loucura
da tortura,
da demencia,
pela proibição de consumar
que nos nega avançar,
nesse momento
parado no tempo
nada parece existir
que possa interferir
com o estamos a sentir
e ninguem
nos pode tirar
o prazer
que estamos a ter
refletido no olhar
no tocar
no ouvir
no eco do suspirar
que soltas
fugasmente
quando me sentes
possantemente
a te beijar.
-
LETRASALINHADAS

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

SOZINHO


Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado
Juntando o antes, o agora e o depois
-
Porque você me deixa tão solto?
Porque você não cola em mim?
Estou me sentindo muito sozinho...
-
Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes...cai bem
Eu tenho os meus segredos e planos secretos
Só abro pra você, mais ninguém
-
Porque você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela de repente me ganha?
-
Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
-
Ou você me engana
Ou não está madura...
Onde está você agora???
-
CAETANO VELOSO


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

ERUPÇÃO


Mimas-me
Atrais-me
Desejas-me
Beijas-me
Enlouqueces-me
-
Explodes sem avisar
Ameaças tudo abandonar
Fulminas-me com o olhar
Partes-me em dois,
e depois...
-
Voltas a acalmar
E de tanto te sentir amar
Embriagado, acabo por sossegar
E tudo volta ao seu lugar
-
LETRASALINHADAS

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

METÁFORA DOS SENTIMENTOS


Comecei a acreditar ouvir
as forças de mim a sair.
Sinto-me fraco, impotente
habituei-me a andar carente.
-
Cedi então à tentação

de abrir espaço no coração
e a permitir como companhia
quem sempre temi ter um dia
-
Quatro chegadas amigas pois, elas são

Mágoa, Frustação, Desilusão e Solidão
e por muito que as tente afastar
elas juram nunca me abandonar
-
À Mágoa já por "tu" a trato.

A frustação e eu, comemos do mesmo prato.
Sou intimo e chegado à desilusão.
Por companhia, tenho unicamente a Solidão
-
Todas insistem sem pudor

a gravitar ao meu redor,
a intrinsecas de mim se tornarem
até os meus dias acabarem.
-
Ao principio ainda resistia

mas veloz chegou o dia
em que os braços cruzei
e nunca mais as afastei
-
A todo o lado agora comigo vão,

em todos os pensamentos estão,
até nos desejos reprimidos,
até nos sonhos perdidos
-
Ah! pois já me esquecia...

Ai de mim no dia
em que as faça despertar
pois ameaçam de vez tomar o meu lugar
e não ouso sequer pensar
a qualquer delas dispensar
pois tenham medo que voltem
mais fortes, e se revoltem
-
A não ser que...esperem...

Arrisco dar-lhes o que querem
Podia talvez resultar...
Nada perderia em tentar
-
Veremos como farei...

-
À crescente e possante Frustação

oferecia-lhe da Magoa a sua mão.
A viver juntas começariam
e só de quando em quando me visitariam
-
À triste e sombria Solidão

Casá-la-ia com a amiga Desilusão.
Belo par elas fariam!
Belo lar começariam!
-
Ainda durante ambas luas-de-mel

trataria de lhes esquecer o fel,
suas faces, o seu cheiro ou paladar,
até delas lembrança nenhuma restar
-
E aí do zero, do recomeço

lutaria por um futuro menos tropeço
que me voltasse a fazer sonhar
que me permitisse alegre voltar a acordar
-
Onde estás futuro incerto

que me assustas por não te ver chegar??
-
LETRASALINHADAS

domingo, 3 de fevereiro de 2008

SEI QUE SABES QUE SEI


Sei que sim
que estás assim
triste, desiludida
cabisbaixa, deprimida
com medo que não se entenda
que venhas a perder a contenda
que teimas em manter
com esse teu sofrer
-
Sei que não, não
sabes bem a razão
nem os motivos causadores
de todos esses teus temores
-
Sabes bem que sei
e sempre bem avaliei
quanto vale esse teu ser,
o que não daria para o ter
-
Sei que estás a sofrer
como talvez ninguém
por nem sequer saberes
de onde a dor provém
-
Sei que de ti tentas afastar
esse teu desgosto, esse pesar
tentas rir, dançar, cantarolar
para ninguem sequer desconfiar
que por baixo dessa alegria
desse falso estado de calmaria,
mora encoberta a dor, de dia,
para à noite no seu explendor se revelar.
-
LETRASALINHADAS

FASCINAÇÃO


Os sonhos mais lindos, sonhei
De quimeras mil, um castelo ergui
E no teu olhar, tonto de emoção
Com sofreguidão mil venturas previ
O teu corpo é luz, sedução
Poema divino cheio de explendor
Teu sorriso prende, inebria, entontece
És fascinação...Amor!
-
ELIS REGINA

domingo, 27 de janeiro de 2008


Só por existir
Só por duvidar
Tenho duas almas em guerra
E sei que nenhuma vai ganhar
-
Só por ter dois sóis
Só por hesitar
Fiz a cama na encruzilhada
E chamei casa a esse lugar
-
E anda sempre alguém por lá
Junto à tempestade
Onde os pés não têm chão
E as mãos perdem a razão
-
Só por inventar
Só por destruir
Tenho as chaves do céu e do inferno
E deixo o tempo decidir
-
JORGE PALMA

sábado, 26 de janeiro de 2008

HÁ TANTO TEMPO (ESPERO POR TI)


Há tanto tempo espero por ti
na solidão do meu lugar
Vem aquecer-me a cama
tráz flores para o jantar
-
Sempre habitaste o meu coração
és a razão do meu fervor
mas não te vejo a cara
não sinto o teu calor
-
Podes contar ao mundo
como eu te procurei
quando me for embora
diz que te encontrei
-
Mesmo que tu não sejas real
ou sejas quem eu não previ
hei-de inventar-te sempre
hei-de esperar por ti
-
JORGE PALMA

domingo, 13 de janeiro de 2008

GARÇA PERDIDA



Anoiteceu
no meu olhar de feiticeira,
de estrela do mar, de céu,
de lua cheia, de garça perdida na areia.
-
Anoiteceu
no meu olhar,
perdi as penas, não posso voar,
deixei filhos e ninhos, cuidados, carinhos, no mar...
-
Só sei voar dentro de mim
neste sonho de abraçar
o céu sem fim, o mar, a terra inteira!
-
E trago o mar dentro de mim,
com o céu vivo a sonhar
e vou sonhar até ao fim, até não mais acordar...
-
Então, voltarei a cruzar este céu e este mar,
voarei, voarei sem parar á volta da terra inteira!
Ninhos faria de lua cheia e depois,
dormiria na areia...
-
JOÃO MENDONÇA

DESILUSÃO



Foi falso alarme!
Volto para dentro
Da concha de mármore
Sem hesitar um momento
-
Mármore bem forte
Pedra de bom porte
Que tempo demasiado
Lá vou ficar fechado
-
Foi engano puro
E por isso tão duro
Ver chegado o dia
De morrer a fantasia
-

Fechar-me-ei de novo
Dentro desse meu ovo
Por a ilusão acabar
Para a dor passar
-
Não tenho medo
De voltar tão cedo
Minha concha fiel
Pura de doce fel
-
Fechado me vais manter
Só tu me sabes proteger
Do inferno exterior
Doutra igual nova dor
-
Minha única sombra
Minha branca pomba
Meu destinado lar
Só lá posso ficar
-
Como num ventre
De mãe paciente
Ninguém vai entrar
Nem me magoar
-
Leito inviolável
Serei intocável
Detesto traição!
Prefiro...solidão

-
LETRASALINHADAS

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

SEREMOS ????


SOMOS duas almas gemeas, embora desencontradas
Como frente e verso de pautas rasgadas
-
SOMOS cara e coroa de moedas diferentes
E embora nos completemos continuamos carentes
-
SOMOS da mesma planta duas raízes
Que nunca se tocam nem são felizes
-
SOMOS agua e azeite quando misturados
E ainda que sempre juntos, continuamos separados
-
SOMOS duas pétalas da mesma flôr
Arrancadas pelo vento, atingidas no amor
-
SOMOS duas gotas de chuva intensa
Que nunca se juntam na sua queda imensa
-
SOMOS dois destroços à deriva no mar
A que ninguém liga, nem perde tempo a amar
-
SOMOS duas pedras tão insignificantes
Que só se movem se pontapeadas antes
-
SOMOS dois vagabundos sós numa infinita viagem
Que todos fingem não ver na sua vagueante passagem
-
SOMOS fruta tocada num cesto qualquer
Que todos a recusam, que ninguém a quer
-
SOMOS duas metades do mesmo coração
Que separadas para sempre, jamais se unirão
-
SOMOS duas gaivotas no céu azul a voar
Que mesmo se desejando, nunca se vão cruzar
-
SOMOS como duas belas nuvens suspensas no ar
Que com falta de vento, nunca se vão tocar
-
LETRASALINHADAS